Os Psicopatas no Mundo Corporativo
Apesar dos estudos nas áreas de psicologia e apontarem um percentual pequeno da população com este transtorno, (cerca de 4 % da população apresenta o distúrbio nos graus pequenos, médios e graves, de acordo com a Associação Americana de Psiquiatria), no mundo corporativo podemos observar a existência de muitos profissionais que têm traços marcantes de psicopatia, seja pela incapacidade de empatia, pelas características de frieza e desprezo pela emoção alheia, pela maneira que simulam suas emoções para manipularem outros indivíduos, ou mesmo pelo comportamento inseguro e colérico, tão marcantes nos estudos que discorrem sobre este distúrbio.
Neste tipo de indivíduo, a busca pela dominância e poder faz com que a empatia seja relegada a um segundo plano, e este, racionalmente, passe a adotar um comportamento extremamente toxico. E o pior, quando em posição de liderança, tende a prejudicar os membros de sua equipe, podendo causar sérios prejuízos aos indivíduos e à organização.
É importante ressaltar que há uma diferença entre um superior rigoroso e com estilo de gestão autocrática com um psicopata, enquanto o primeiro é relativamente previsível apresentando-se sempre como o famoso mal humorado e “chato”, o segundo pode ser uma pessoa simpática e extremamente agradável, apresentando-se sempre de maneira articulada, inteligente e sedutora.
Mas como identificar este indivíduo no ambiente de trabalho?
Normalmente, estes indivíduos apresentam algumas características comportamentais que são evidenciadas de maneira frequente e explicita apesar de que, necessariamente, nem sempre o psicopata apresenta todas elas ao mesmo tempo.
UMA BUSCA EXCESSIVA POR PODER
A busca pela ascensão no mundo corporativo é almejada para muitos profissionais, entretanto, o psicopata corporativo busca mais do que ascensão profissional, busca o poder a todo custo e movimenta-se o tempo todo para alcançar seus objetivos. Sua sede de poder faz com que sejam extremamente focados nos resultados a curto prazo, colocando-os na frente de tudo, ainda que para isso possam agir com falta de ética, profissionalismo e atropelar as pessoas para receberem seu bônus ou alcançar seus objetivos de carreira.
Tendem a ser muito bem sucedidos porque não têm escrúpulos para alcançar suas metas Irão passar por cima de tudo e de todos.
Adicionalmente, apresentam-se como pessoas que prezam pela ostentação de sinais de “poder” seja na empresa ou em seu meio social, além de serem vaidosos e narcisistas ao extremo.
EGOCENTRISMO
Outra característica deste indivíduo é o egocentrismo, colocando-se sempre no centro de tudo e costumam falar muito na primeira pessoa “eu fiz”, “eu desenvolvi”, “eu realizei”, ou de modo possessivo, “meu resultado”, “meu time”, “meu bônus”. Mesmo quando não perguntados, tendem a falar muito de seus feitos no passado, seus resultados, projetos em outras empresas, viagens e cursos no exterior e tendem a apresentar um curriculum extenso em demasia.
Além disso, é muito preocupado com sua imagem pessoal, mostra-se uma pessoa que tem um bom relacionamento com sua família e amigos, mas normalmente, fora do mundo corporativo tende a ser isolado.
ARROGANTES
Definitivamente mumildade não é uma característica nestes indivíduos, normalmente têm um comportamento arrogante e se acham donos da verdade desprezando as pessoas que não precisa para alcançar seus objetivos.
MANIPULADORES
Os psicopatas corporativos normalmente são mentirosos patológicos e manipuladores e não ficam constrangidos quando pegos em uma mentira, agem de maneira cínica e dissimulada apresentando sempre um comportamento instável e grosseiro quando confrontados, tendendo a distorcer os fatos.
Contraditoriamente, quando necessitam da ajuda de alguém são extremamente simpáticos, carismáticos e amigos, usam deste artifício para manipular e diminuir a desconfiança buscando similaridade com as pessoas que podem ser seus aliados vai buscar os “idiotas úteis” em seu ambiente de trabalho que irão auxiliá-lo em seu plano de poder, sobre os quais irá exercer influência para realizar seus planos e exporem-se o mínimo possível. O psicopata sabe racionalmente o que faz, como faz e com quem faz.
Por ser extremamente astuto, sabe adaptar seu estilo de comunicação rapidamente ao seu interlocutor, buscando seduzi-lo, tornando-se um grande adulador, caso necessário ou vitimizar-se para que as pessoas sintam pena. Tem uma grande capacidade de leitura do outro, e seguramente, irá apresentar-se como um grande amigo, oferecendo ajuda e até “levando pequenos mimos” para os alvos de seu plano.
INVEJOSOS
Por terem uma necessidade de visibilidade extrema não admitem quando outras pessoas se destaquem mais que do que eles. Quando vêm outras pessoas destacando-se no ambiente de trabalho costumam criticar ou fazer comentários irônicos e jocosos.
Quando deseja algo para satisfazer seu ego insiste, argumentando de maneira exagerada e procurando ganhar pelo cansaço.
INCOERENTES
"Faça o que eu digo, não faça o que eu faço"
São incoerentes, normalmente falam de liderança, discorrem sobre artigos acadêmicos, citam frases famosas, falam da necessidade de feedback e de uma política de portas abertas mas, na prática, mantêm-se distantes, ou seja, ainda que a porta esteja aberta, eles não conseguem ouvir opiniões de fora e têm dificuldade de aceitar feedback, já que ouvem pouco, não aceitam críticas e consideram suas opiniões mais importante que as dos outros.
Falam muito sobre ética, "compliance" e código de conduta, ainda que não apliquem estas regras em seu dia a dia.
O PSICOPATA CORPORATIVO EM UMA POSIÇÃO DE LIDERANÇA
Quando em uma posição de liderança, o psicopata corporativo tem como características o excesso de autoridade, controle e uma exigência demasiada de disciplina por parte da equipe, muitas vezes abusando do poder e agindo de forma agressiva, abusiva, ríspida e muitas vezes sádica, normalmente também são centralizadores e coercitivos.
Geram medo e a desconfiança em suas equipes, não estimulando a criatividade, a autonomia e seus desenvolvimentos, oprimindo seus funcionários não aceitando opiniões e não admitindo seus próprios erros, demonstrando agressividade em seus gestos como demonstração de poder.
Quebram a linha da cobrança por resultados e a falta de respeito ao colaborador. Seu sadismo faz com que façam a gestão baseada no medo ao invés do respeito.
Muito desses profissionais são muito bons tecnicamente, entretanto, por suas características individualistas e falta de competência para gerir pessoas, não conseguem desenvolver a empatia e não estão preocupados caso, eventualmente, venham a prejudicar outras pessoas, assim, a equipe acaba obedecendo as suas ordens e não o respeitando, não consegue ser uma fonte de inspiração à equipe.
Gostam de expor as pessoas, criticá-las em público, falarem de modo inflado e ameaçador, demonstrando agressividade em seus gestos e subjugando a equipe com o poder, não respeitando as pessoas. Têm um comportamento imprevisível.
Ignoram a opinião da equipe, oprimem e ameaçam e controla os funcionários, não lhes dando autonomia e impondo suas convicções.
TRABALHAM A DIVISÃO DO GRUPO
Normalmente, este tipo de líder tende a buscar a divisão da equipe, disseminando fofoca, falando mal de outros colaboradores e criticando seus comportamentos, porém não se iluda, da mesma maneira ele tenderá a falar mal de você para os outros e, dependendo do caso, difamá-lo.
Promovem a exclusão de seus desafetos e favorecem a seus aliados, levando quaisquer conflitos ou divergências de opinião para o lado pessoal. Têm a tendência de serem punitivos e rancorosos.
Outra característica inusitada é tentar todo o tempo induzir o colaborador ao erro, seja não deixando claro o que quer ou seja, enviando uma quantidade desnecessária, confusa de informação, o que seguramente ocasionará um tempo adicional para que o colaborador cumpra a tarefa ou que a mesma seja executada de maneira errada, demonstram também uma imensa falta de respeito pelo tempo dos outros, podendo inclusive exigir que o trabalho seja refeito várias vezes sem nenhum fundamento, ignorando o excesso de trabalho.
FAZEM JOGOS MENTAIS PARA CONFUNDIR A VÍTIMA
Na gestão de sua equipe normalmente tendem a tentar afetar a autoestima do colaborador, humilhando-o ou desestabilizando-o emocionalmente, seja de maneira direta ou através de ironia ou deboche.
Caso o resultado da equipe seja satisfatório, eles fatalmente se posicionarão como os responsáveis pela liderança do feito até porque têm dificuldade de atribuir crédito aos outros e elogiá-los, entretanto, caso o resultado seja ruim, eles tenderão a buscar culpados entre os membros da equipe, já que tendem a fugir das responsabilidades.
De maneira perversa, abusam da chantagem emocional e da ameaça.
COMO SE RELACIONAM COM SEUS SUPERIORES
Apesar de todas as características mencionadas, este tipo de indivíduo é extremamente articulado, e normalmente, sabe vender-se muito bem, logo, ao entregar resultados (ainda que com desgaste da equipe) e evitar conflitos com pares e superiores, é visto como um profissional de “entrega”.
Seu estilo de gestão opressora não é percebido já que normalmente conscientemente cria uma barreira entre seus subordinados e os níveis superiores da empresa e ainda que na grande maioria de vezes as demais áreas da empresa tenham pequena percepção do seu comportamento, mas não conseguem identificar a fundo os danos que causa à sua equipe.
Adicionalmente, devido à sua comunicação eloquente e muito bem articulada, tende a mostrar-se educado, polido e simpático aos seus superiores (em uma posição totalmente diferente da maneira com que trata seus subordinados), mostra-se como uma agradável e culta. Seduzem seus superiores, elogiando-os sempre que possível.
Irá mapear quem são os poderosos e quem tem acesso aos poderosos.
Por que algumas empresas contratam este tipo de profissional?
O perfil seguro e sedutor do psicopata, aliado pela sua excelente articulação, capacidade de comunicação e um QI acima da média, seguramente são componentes que vão destacar-se no momento da entrevista.
Devido a seu perfil focado, frio e ausência de sentimentos, irá apresentar resultados rápidos quando há necessidade de choques de gestão mudanças drásticas ou para gerir equipes indisciplinadas. É extremamente concentrado, e calmo. Não se importa com o que pensam dele, andam lado a lado com a indiferença.
Tendo em vista sua característica autoritária e tomada de decisão rápida, ainda que muitas vezes equivocadas, eles conseguem apresentar resultados no curto prazo, entretanto, no médio e longo prazos, tendem a desgastar a equipe devido à sua característica opressora, gerando conflitos, estresse e muitas vezes culminando na perda de grandes colaboradores.
Por que que este perfil de líder afeta o ambiente de trabalho?
Muitas vezes o líder psicopata, além dos comportamentos descritos anteriormente, apresenta uma comunicação grosseira e tende a subir o tom da voz quando contrariado, quando quer impor uma ideia ou simplesmente como sinal de poder.
Este estilo de comunicação é extremamente danoso para a empresa e para as equipes, em um artigo publicado em 2013 pela Harvard Business Review denominado “The Price of Incivility” https://bit.ly/34FuRId ou, em português, “O preço da Incivilidade”, Christine Porath e Cristine Pearson demonstram como o estilo de comunicação grosseiro normalmente adotado por este tipo de pessoa impacta negativamente o ambiente de trabalho, afetando a criatividade dos colaboradores, o desempenho e trabalho em grupo o que consequentemente afeta os resultados da empresa. Adicionalmente, ao serem tratados de maneira grosseira, e sentindo-se desrespeitados, os colaboradores tendem a esforçar-se menos, tendem a descontar suas frustrações nos clientes (internos e externos) e em muitos casos chegam a deixar a empresa, ou seja, em tempos nos quais às áreas de Recursos Humanos gastam tempo e investimento na contratação, desenvolvimento e retenção de colaboradores, a comunicação grosseira traz prejuízo financeiro às organizações.
Outro ponto interessante no estudo é que a comunicação grosseira muitas tende a ser disseminada dentro das organizações, a pesquisa revelou que 25 % dos líderes que tratam sua equipe de maneira grosseira, afirmaram que, em algum momento da carreira, tiveram como modelo este tipo de liderança.
Logo, o este estilo de liderança, aliado à uma comunicação grosseira pode ocasionar danos à saúde dos funcionários em decorrência de estresse e doenças além de eventuais passivos trabalhistas para a empresa pois, dependendo da frequência e intensidade, este tipo de comportamento por parte do líder pode configurar-se como assédio moral.
Como lidar com o psicopata corporativo?
Trate-o de maneira polida, educada, mas não espere que ele modifique seu modo de agir já que o psicopata corporativo não tem cura, portanto não há como esperar que ele mude através de feedbacks ou entrando em conflito direto. Evite falar sobre seus sentimentos ele poderá utilizar este conhecimento como uma ferramenta para tentar manipulá-lo e procure mantê-lo a distância.
Apesar da astucia, normalmente são rasos em termos no que aparenta ser, podendo ser facilmente detectado e isolado pelo grupo.
A grande questão é: o que fazer quando este indivíduo é seu superior direto?
Obviamente, trabalhar diretamente com pessoas com estes tipos de características, devido à sobrecarga de stress pode vir a ocasionar sérios riscos à sua saúde física e psicológica e é melhor, na medida do possível, evitar estar subordinado a este perfil profissional, porém, algumas vezes, a vida nos leva a estarmos subordinado ou há algumas alternativas que podem ajudá-lo a lidar com este tipo de perfil.
Caso isso ocorra, tente expandir seu networking dentro da empresa, procurando outras áreas de atuação e saindo da influência dele, caso a cultura da empresa permitir fale com o RH.
O ponto é racionalizar, proteger-se e fugir do confronto direto.
Use o ego do psicopata a seu favor. Peça um feedback sobre o que não está indo bem no seu trabalho e como ele acha que você poderia melhorar, com isso você estará dividindo com ele seu plano de desenvolvimento e consequentemente alimentando seu ego.
Trate-o com educação, porém, não atenha uma atitude passiva diante da humilhação porque isso pode tornar-se uma constante, ele não precisa gostar de você, porém deverá respeitá-lo.
Leve evidência para suportar sua argumentação diante de uma avaliação de desempenho e aprenda a negociar.
Infelizmente os psicopatas corporativos são uma realidade, possivelmente já os encontramos (ou iremos encontrá-los) em nossa trajetória profissional, entretanto, é importante que saibamos identificar as características principais destes indivíduos e não nos deixarmos influenciar.
Nas relações pessoais seja dentro ou fora das organizações, há que prevalecer o profissionalismo, a empatia e o respeito ao indivíduo, em outras palavras, não há espaço para pessoas cujos comportamentos que não estejam alinhados com estes valores.
Manter psicopatas no poder pode significar a morte de uma organização, logo, estas devem saber identificar e anular estes indivíduos e prezar pela identificação e suporte a líderes que sejam inspiradores e contribuam com o desenvolvimento da empresa, sempre com o foco no respeito e na manutenção do clima organizacional, ou seja, a abordagem humanística, a missão e os valores da empresa devem sair do papel e efetivamente ser incorporada à sua cultura.
Veja a publicação original em meu perfil no LinkedIn Psicopatas no Mundo Corporativo
Abraços.
Douglas
Referências:
- Foucault, Michel. Os anormais: curso no Collège de France (1974-1975). Tradução -Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
- Harvard Business Review - “The Price of Incivility”, 2013.
- Silva, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado - Rio de Janeiro - Fontanar - 2008.
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